TEXTO ANALISE DE SOLO
TEXTO ANALISE DE SOLO

                                                                                          ANÁLISE DE SOLOS


Introdução

Primeiro (e imprescindível) passo para o sucesso de um empreendimento rural, a análise de solo, ao contrário do que nor-malmente se crê, não é uma prática simples.
Deveria ser, porque ao tomar esse cuidado e assumir este esforço, um produtor rural pode enxergar produtividade e lucros como metas palpáveis. Essa orientação parte da constatação de que alcançar alta produtividade numa lavoura é resultado da conjugação de condições favoráveis. Clima e um programa de trabalho baseado na análise criteriosa de todos os fatores que afetam o desempenho de uma cultura (adubação correta, calagem, escolha da semente, preparação adequada do solo, tratos naturais, etc) são a mola-mestra desses empeendimentos..

Conclui-se portanto que o ponto de partida é a avaliação do estado geral de fertilidade do solo, que deve ser rigorosamente executada, seguindo instruções baseadas em considerações de ordem científica.

A análise de fertilidade do solo é desse modo, tarefa que exige análise e orientação de um agrônomo. Munidos dessas fer-ramentas,poderemos obter um diagnóstico das necessidades de adubação e calagem a fim de que se defina o quê, quando e quanto aplicar de calcário e fertilizante.

APLICAÇÕES. A classificação de solos tem aplicações práticas principalmente em levantamentos de solos, constituindo a fonte permanente de conhecimento para este ramo de atividade técnica. Além disso, também é útil para referenciar, preci-samente, pontos de amostragem de solos, rochas, plantas, materiais genéticos, facilitando a extrapolação de resultados experimentais de manejo, conservação e fertilidade de solos.

A classificação do solo em pontos de amostragem, associada ao Georreferenciamento (latitude, longitude e altitude), é uma ferramenta poderosa para o conhecimento de segmentos da paisagem ou do território como um todo, constituindo uma informação indispensável na estruturação de bases de dados e para os Sistemas de Informação Geográficas (SIGs) para fins de estudos ambientais.

Nesta linha de organização, interpretação e integração da informação, a classificação de solos, do ponto de vista do plane-jamento territorial, desempenha importante papel na segmentação de paisagens, identificando áreas de maior potencial para fins de utilização e ocupação e áreas impróprias ou não recomendadas, contribuindo desta forma para a preservação ambiental e uso adequado de ecossistemas, dos quais, o solo, é um componente básico.

O QUE É IDENTIFICADO. Numa análise de solo são determinados 16 nutrientes considerados essenciais às plantas – três são encontrados na atmosfera e na água (carbono, hidrogênio e oxigênio) e treze são nutrientes minerais fornecidos pelo solo. Todos esses nutrientes são importantes e a disponibilidade menor de um deles é suficiente para limitar a produção das culturas.

CATEGORIAS DE ANÁLISE.
A. ANÁLISE BÁSICA. Argila; pH (medida da acidez do solo); Índice SMP; Fósforo; Potássio; Matéria ; Orgânica; Alumínio; Cálcio; Magnésio.

B. ANÁLISE COMPLETA. Argila; pH; Índice SMP; Fósforo; Potássio; Matéria Orgânica; Alumínio; Cálcio; Magnésio; anganês; Enxofre; Cobre; Zinco; Boro; Ferro; Cloro.

COMO ANALISAR.
1. CRITÉRIOS PARA DIVISÃO DA ÁREA DE AMOSTRAGEM:
O tipo de solo é um critério utilizado para a divisão da área ou gleba, mas, dentro de um mesmo tipo de solo - em função de diferentes coberturas vegetais, cor do solo , posição no relevo (baixada, encosta de morro, etc.), histórico da área,- pó-de haver necessidade de nova subdivisão, pois dentre inúmeras razões, cultivos diferentes exigem manejos diferentes (por exemplo a adubação, mineral ou orgânica, ou o controle de plantas daninhas, pragas e doenças).
Áreas mal drenadas, formigueiros, área com acúmulo de estercos, depósitos de adubos, área de acúmulo de palhada pró-xima á ação de trilhadeira, etc., que não representem a superfície utilizável devem ficar de fora da amostragem. Deve-se delimitar a área a ser amostrada longe o suficiente (2 a 5 metros) de rodovias, estradas rurais, cercas ou depósitos em ge-ral. Para solos onde se pratica a olericultura, o princípio é o mesmo, mas, devido às áreas serem menores, o distanciamen-to deve ser menor, contanto, não menos que 1 metro.

2. NÚMERO DE AMOSTRAS SIMPLES OU SUB-AMOSTRAS:
Quinze subamostras da camada arável (0-20 cm de profundidade) de uma área de 1 a 2 hectares (em casos de grande uniformidade do terreno, até 4 ha) são consideradas suficientes. Coletadas em zigue-zague, em pontos distanciados 15 passos um do outro, as subamostras devem ser acondicionadas num recipiente plástico limpo (Ex. balde de 5-10 litros ou saco plástico limpo bem forte) para posterior composição da amostra ropriamente dita.

3. PROFUNDIDADE. A amostra é retirada à profundidade de 20 cm, devendo representar uma porção uniforme de 0 a 20 cm. Em áreas ainda não preparadas mecanicamente através da aração ou gradagem ou com palhada ou vegetação fecha-da, deve-se limpar a superfície do solo nos locais escolhidos para retirar as sub-amostras, removendo-se folhas, ramos ou galhos com cautela suficiente para não remover muito solo.Amostragem nesta profundidade vem sendo normalmente ado-tada em sistemas de cultivo convencional, onde o preparo do solo, para a semeadura de milho, soja, trigo ou feijão, consiste numa aração seguida de duas gradagens. Objetivando averiguar o ambiente radicular no subsolo, recomenda-se ainda que se faça a amostragem nas profundidades de 20-40 e 40-60 cm. Há evidências de que nestas profundidades a presença de alta quantidade de alumínio associada à deficiência de cálcio, possam atuar como uma barreira química, im-pedindo o crescimento radicular em profundidade.

. CULTURA X VARIAÇÃO DE PROFUNDIDADE DA AMOSTRA:
. PASTAGENS SOB MANEJO EXTENSIVO, onde raramente se faz adubações ou renovações, também se recomenda a amostragem na profundidade de 0-20 cm;
. SISTEMAS DE PLANTIO DIRETO. Executar uma amostragem mais estratificada: 0-10, 10-20, 20-40 e 40-60 cm.;
. PASTAGENS SOB MANEJO INTENSIVO também deve-se adotar o mesmo procedimento do plantio direto;
. CULTURAS PERENES (Ex. café e frutíferas) já instaladas, amostrar de 0-10, 10-20, 20-40 e 40-60 cm na projeção da copa, que é o local da adubação e outra entre as linhas de plantio ou no centro das ruas;
. Na INSTALAÇÃO DAS CULTURAS, a amostragem deve ser feita na profundidade de 0-20, 20-40 e 40-60 cm;
. LAVOURAS DE CANA-DE-AÇÚCAR deve ser feita nas profundidades de 0-25 e 25-50 cm. A adubação freqüente de vinhaça neste sistema torna necessária uma amostragem também a 0-10 cm;
. Em SOLOS DE VÁRZEA, aqueles encontrados nas planícies dos rios, onde se desenvolveram pela deposição de sedimentos, a profundidade da amostra deve ser variável com o tipo de solo e de acordo com a sua diferenciação vertical;
. SOLOS TIPO GLEY POUCO HÚMICO, amostragens de 0-20 cm e 20-40 cm;
. SOLOS ORGÂNICOS, maiores profundidades devem ser exploradas, sendo importante determinar o substrato mineral, o que pode ocorrer a partir dos 80 cm, exigindo, assim, amostragens a 80-100 cm, principalmente no início da exploração da várzea;
. Enfim, em solos onde há REFLORESTAMENTO, recomenda-se a amostragem a 0-20 e 20-40 cm.

4. COMPOSIÇÃO DA AMOSTRA COMPOSTA . A composição ideal da amostra se dá pelo quarteamento do material, ou seja, mistura-se bem as sub-amostras contidas no recipiente e despeja-se numa folha de plástico de aprox. 70-100 cm de lado para, em seguida, espalhar o material e dividi-lo em 8 áreas. Descartam-se duas porções de solo de cada lado, localizadas frente a frente, mas não avizinhadas.O material restante deve ser novamente misturado repetindo-se o mesmo procedimento anteriormente descrito até que se obtenha a quantidade de amostra desejada.Para análise de nutrientes, uma quantidade 300-500 g de solo é o suficiente. Caso o solo apresente grande quantidade de pedras ou cascalhos há a necessidade de 1-2 Kg de material.

Devido à variabilidade existente na densidade dos solos de várzea, principalmente nos orgânicos e Gley Húmico, é impor-tante garantir o envio de amostra de 500 gramas de solo, mesmo que os volumes encaminhados para a análise sejam diferentes.

No local, a amostra, uma vez composta, deve ser seca ao ar e à sombra sobre uma folha de plástico limpa. Em seguida, a amostra composta é transferida para um saco plástico limpo.

5. PERÍODO PARA COLETA DE AMOSTRAS. A época de amostragem ideal está entre a colheita e a adubação subseqüente. A última adubação, entretanto, não deve estar muito próxima da amostragem, onde a adubação orgânica deve ter sido executada há 8 semanas e a mineral há 4-6 semanas.
Após chuva copiosa deve-se esperar 2 a 4 dias para atingir uma consistência adequada para a amostragem, pois, do contrário, a mistura para a obtenção da amostra composta se torna impraticável.

6. FREQÜÊNCIA DE AMOSTRAGEM. A amostragem de solos pode ser realizada em intervalos de um a quatro anos. No entanto, o intervalo das amostragens pode ser diminuído se for observado algum comportamento diferencial no desenvol-vimento da cultura, determinada gleba receber maior aplicação de adubo ou houver emprego de novo critério de adu-bação ou correção do solo indicados pelos órgãos de pesquisa ou assistência técnica.
. ÁREAS IRRIGADAS. Recomenda-se amostrar o solo anualmente;
. PASTAGENS. A amostragem deve ser anual em áreas cultivadas com espécies exigentes (Ex. capim colonião, grama estrela, napier) sob pastoreio, capineiras (Ex. napier, cana-de - açúcar e guatemala) ou alfafa;
. FORRAGEIRAS. Em áreas com forrageiras menos exigentes, como braquiárias, andropogon e capim-gordura, a amostragem pode ser feita com intervalos de 2-3 anos.

7. ACONDICIONAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DA AMOSTRA. O acondicionamento de amostras deve ser em sacos plásticos limpos para 1,0 ou 2,0 Kg, dependendo da quantidade de amostra composta. Na falta de etiqueta, o material do saco deve possibilitar identificação como número, origem da amostra e cobertura vegetal. A amostra pode ser identificada da seguin-te maneira: Nome do solicitante; Data e período da amostragem; Local da amostragem: (Estado, Município, nome da pro-priedade e, se possível, as coordenadas locais); Número da amostra; Profundidade e nº de subamostras; Tamanho da área amostrada; Tipo de relevo (Encosta de morro, terra plana, alto do morro, várzea ou baixada).

8. RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA A AMOSTRAGEM:
. Independentemente do tamanho da amostra , as amostras oriúndas de um maior número de sub-amostras são melhores que aquelas formadas de poucas sub-amostras;
. Quanto maior for a quantidade da fração grosseira do solo (cascalhos, pedras e matacões), maior será a quantidade de sub-amostras a coletar da área delimitada e mais laboriosa será a tarefa;
. Com o intuito de se evitar erros sistemáticos, as sub-amostras devem ser retiradas transversalmente à orientação da linha de plantio, preparo do solo ou da adubação;
. Na amostragem e na composição da amostra composta, cada cascalho, pedra ou matacão deve ter a mesma chance de estar presente na amostra composta ou nos passos para a sua composição, ou seja, cada tipo de fração grosseira deve ter a possibilidade de constituir a amostra composta, nas mesmas proporções que as encontradas no solo amostrado;
. Não fumar durante a coleta das amostras, pois cinzas de cigarro de qualquer natureza podem arruinar o resultado de uma análise de solo, principalmente com relação aos teores de potássio.

EQUIPAMENTOS. Um dos equipamentos mais adequados para a amostragem de solos é o trado. Tubo de aço leve, contendo uma fenda lateral ao longo da profundidade a ser amostrada, normalmente 1,50 m e extremidade inferior cortante, o trado possui demarcações a cada 5 cm ao longo da fenda e, na extremidade superior, apresenta um cabo disposto em "T".
Além do trado existem vários tipos de equipamentos para a amostragem do solo:
. TRADO HOLANDÊS, que tem bom desempenho em qualquer tipo de solo, mas exige grande esforço físico;
. TRADO DE ROSCA, mais adequado para solos arenosos e úmidos;
. CALADOR, ideal para amostragem em terra fofa e ligeiramente úmida;
. MARRETA e TRADO TUBULAR , que são instrumentos normalmente utilizados para solos secos e compactados;
. PÁ DE CORTE OU PÁ RETA, equipamento mais disponível e simples para o agricultor, e que deve ser usado isoladamente em terra úmida e fofa;
. ENXADÃO em solo seco e compactado;
. CHIBANCA, utilizada em solos extremamente compactados e que é semelhante a um pequeno alvião ou picareta.

A atenção aos equipamentos utilizados deve ser grande, já que observa-se com freqüência o uso de materiais potencialmente contaminantes e relativamente pesados para a tarefa (Ex. tubo de aço galvanizado de uma polegada). Nesse caso, ocorre que apesar de haver exigência de coletar 15-20 subamostras na área delimitada, o profissional, em função da sobrecarga ocasionada pelo equipamento inadequado, apresenta sinais de fadiga e passa a considerar a coleta de 7-10 subamostras como "bastante adequada" para a análise. Nesse sentido, é necessário ressaltar a importância em coletar sempre o mesmo volume para cada subamostra.

Maiores informações sobre equipamentos para a montagem de laboratório de análise do solo, deve-se entrar em contato com o IAC-Instituto Agrônomico de Campinas / Centro Tecnológico de Análise dos Solos.

APOIO TECONOLÓGICO.
O Programa de Controle de Qualidade com Sistema IAC (Instituto Agronômico de Campinas)de Análise de Solo, iniciado em 1986, hoje reúne 70 laboratórios de solo que utilizam esse sistema e a coordenação do Programa, que é feita pelo Centro de Solos e Recursos Agroambientais do Instituto Agronômico.

A) LABORATÓRIOS DE ANÁLISE DE SOLO. Os métodos adotados pelos laboratórios foram desenvolvidos pelo IAC após vários anos de pesquisa em solos brasileiros e têm como uma das características marcantes a extração de fósforo do solo pela resina trocadora de íons. A extração de micronutrientes é feita por DTPA (Cu, Fe, Mn e Zn) ou Água quente (B).

. O QUE FAZEM. Todos os laboratórios do Programa realizam análises químicas de solo para fins de fertilidade, sendo que alguns também fazem outras determinações, tais como análises físicas (textura), e análises de fertilizantes e materiais vegetais. Todos os laboratórios que fazem parte deste programa fazem as análises normais de rotina - macronutrientes (matéria orgânica, pH, acidez potencial, fósforo resina, potássio, cálcio, magnésio, soma de bases, capacidade de troca de cátions e saturação por bases). Alguns analisam também os micronutrientes (boro, cobre, ferro, manganês e zinco). Os tipos de análise realizados estão anotados abaixo dos endereços de cada laboratório.

. OBJETIVOS. Os objetivos são promover o controle de qualidade de análise de solo e a uniformização dos procedimentos analíticos, garantindo assim a confiabilidade dos resultados oferecidos aos agricultores.

. QUALIDADE. Os laboratórios que fazem parte do Programa estampam em seus resultados o Selo de Controle de Qualidade, contendo o ano de validade. Há selos distintos para macronutrientes e micronutrientes.

. PREÇO. O preço das análises não é uniforme.

. PRAZOS. Os prazos de entrega dos resultados variam de laboratório para laboratório e também conforme a época do ano. Geralmente há maior demora entre os meses de julho e setembro, por isso, os agricultores devem planejar as amostragens do solo para evitar esse período.

. TRATAMENTO DE RESÍDUOS. Ao rotular resíduos de laboratório é importante levar em conta que as classificações gerais ou específicas devem ser usadas como diretrizes básicas e que sempre deve-se fazer um diagnóstico local pormenorizado de itens, características toxicológicas, natureza das exposições a esses resíduos, volumes envolvidos, etc.
A seguir estão descritos alguns sistemas de classificação que são baseados na incompatibilidade química e riscos de exposição por inalação e dérmica principalmente:
- REGRAS GERAIS. Grandes volumes - colete os resíduos sólidos, luvas contaminadas, vidros, papéis, etc, em caixas de papelão com dois sacos de plástico; Os líquidos devem conter a descrição da natureza de solutos e solventes e concentrações. Também descrever a quantidade de água presente. Procure ser o mais exato possível nas descrições.

- ELIMINAÇÃO DE RESÍDUOS DE LABORATÓRIO. Os produtos químicos de laboratório são geralmente resíduos de "caráter especial". A eliminação de tais resíduos deve ser cuidadosa observando-se as leis físicas válidas em seu correspondente estado (ou forma). Recomenda-se sempre o contato com órgão responsável ou com o responsável no programa de higiene química da instituição.

- RECOLHIMENTO DE RESÍDUOS DE LABORATÓRIOS. Para que tais resíduos de laboratório possam ser eliminados de forma adequada é necessário ter à disposição recipientes de tipo e tamanho adequados. Os recipientes coletores devem ter alta vedação, serem confeccionados de material estável e em alguns casos serem combustíveis. Deve-se colocar em local ventilado principalmente quando contiverem solventes. Nos recipientes C, E e I os resíduos são colocados em embalagens separadas devendo ser de plástico resistente ao rompimento. Para se proteger de danos no transporte é necessário se utilizar material de amortecimento (ex. vermiculita). Os líquidos derramados podem ser absorvidos facilmente com Chemizorb granulado ou em pó ou equivalente. Na falta deste pode-se usar uma mistura de areia, resíduos de cerâmica porosa e bicarbonato de cálcio.
Os recipientes coletores devem ser caracterizados claramente de acordo com o seu conteúdo, o que também implica em se colocar símbolos de periculosidade.

CONHECENDO UM POUCO DO PRODUTO: O SOLO.
Reconhecida a importância da biodiversidade do solo, podemos entendê-lo como um complexo de seres vivos e materiais minerais e orgânicos cujas interações resultam em suas propriedades específicas (estrutura, fertilidade, matéria orgânica, capacidade de troca iônica, etc.). Os organismos do solo não são apenas seus habitantes, mas também seus componentes.
A biodiversidade e a atividade biológica estão estreitamente e diretamente relacionadas a funções e características essenciais para a manutenção da capacidade produtiva dos solos. Algumas destas são:

FATORES QUE CARACTERIZAM O SOLO FÉRTIL:
. GÊNESE DOS SOLOS
(pedogênese). Sem os organismos, os solos não seriam formados. A intemperização físico-química das rochas matrizes por si só resultaria em terrenos sem nenhuma fertilidade, visto que há necessidade de nitrogênio e esqueletos de carbono para que a vida se estabeleça. As algas são tidas como colonizadores primários do solo, pela sua capacidade de fixar carbono e nitrogênio da atmosfera através dos processos de fotossíntese e fixação biológica de nitrogênio, respectivamente. A partir daí, fungos e bactérias terão recursos para se desenvolver e liberar nutrientes dos minerais do solo, como o fósforo, cálcio e ferro. O solo formado, havendo a disponibilidade de água, permitirá o crescimento de plantas, que ao serem decompostas gerarão matéria orgânica que reterá nutrientes, liberando-os lentamente para os próximos colonizadores. Esta maneira simplificada de apreender o processo de pedogênese, do ponto de vista biológico, ilustra a importância da biodiversidade para a formação dos solos.

. COMPOSIÇÃO. O grau de porosidade e agregação de solos é determinado fortemente pela diversidade de sua macrofauna. A atividade de raízes, formigas, cupins e minhocas geram canais, poros e agregados que terão forte influência no transporte de gases e água no solo. Outros organismos são influenciados por estas atividades, que resultam na criação ou modificação de microhabitats.

. BIOMASSA. Os organismos formam a chamada matéria orgânica viva do solo. Quanto maior a biomassa de um solo, maior o seu potencial de estoque de nutrientes através do acúmulo destes nas células microbianas. Os nutrientes são liberados conforme as células são degradadas devido a morte ou predação por outros organismos.

. CICLAGEM DE NUTRIENTES. A decomposição da matéria orgânica resulta na quebra dos compostos orgânicos e liberação de elementos essenciais que estão presentes nas moléculas dos tecidos vegetais e animais. Bactérias e fungos são responsáveis por cerca de 90% da mineralização do carbono presente nos compostos orgânicos em decomposição. Antes da ação dos microrganismos, a matéria orgânica é atacada por ácaros, minhocas e cupins que trituram os resíduos e dispersam propágulos microbianos, facilitando a ação destes na mineralização do carbono. Pequenos predadores, como os protozoários e nematóides, regulam a atividade dos microrganismos. O ataque predatório mantém as populações microbianas jovens e com atividade metabólica alta. O nitrogênio é fixado biologicamente por bactérias do solo, que transformam a forma gasosa presente na atmosfera para amônio, íon assimilável pelas plantas. Nos solos tropicais o fósforo está normalmente em formas químicas indisponíveis para os outros organismos. Algumas bactérias podem solubilizar estes fosfatos, tornando-os disponíveis para as plantas. Já alguns fungos, através de sua hifas e em associação com raízes, aumentam a área de absorção de fósforo e água para as plantas. Praticamente todos o nutrientes necessitam da ação de microrganismos em alguma fase de seus ciclos.

. BIODEGRADAÇÃO DE POLUENTES. Os microrganismos do solo podem prestar serviços de extrema importância, como a degradação de compostos tóxicos à natureza e ao homem. Agrotóxicos, resíduos industriais, solventes e combustíveis, podem ser degradados no solo por espécies capazes de quebrar as ligações químicas destes compostos. Em alguns casos, os compostos resultantes da degradação microbiana são mais tóxicos que a molécula original. Em outras situações, os microrganismos são capazes de degradar totalmente o composto tóxico.

.CONTROLE BIOLÓGICO. O potencial da biodiversidade para o controle biológico de doenças e pragas da agricultura pode ser deduzido a partir do fato que em ecossistemas naturais raras vezes observam-se infestações de pragas ou doenças de plantas. O conceito de pragas e doenças é decorrência da atividade agrícola e só é aplicável em ecossistemas manejados pelo homem. Tais sistemas têm, via de regra, biodiversidade consideravelmente reduzida em relação aos sistemas naturais, donde se conclui que o controle natural dos problemas fitossanitários é feito pela biodiversidade e seu equilíbrio ecológico.

COMO A AGRICULTURA AMEAÇA A BIODIVERSIDADE DO SOLO. A atividade agrícola no Brasil quase sempre determina a redução da biodiversidade. Tudo em função da transição de área natural - com muitas espécies de plantas e animais convivendo em equilíbrio ecológico dinâmico - para área agrícola, com reduzido número de espécies convivendo em desequilíbrio.
Muito provavelmente, a perda de espécies vegetais também causa alterações na biodiversidade dos solos, já que suas raízes constituem fonte de energia para microrganismos específicos da rizosfera. A perda de diversidade destes microrganismos pode alterar a estrutura populacional de outros organismos situados ao longo da cadeia trófica, como nematóides, protozoários e microartrópodos. Estes pequenos animais, juntamente com insetos trituradores, também estão envolvidos na decomposição de matéria orgânica, processo-chave na ciclagem dos nutrientes. As alterações na biodiversidade podem ser bastante acentuadas em sistemas de monocultura com uso intenso de pesticidas. Processos vitais do solo, como a decomposição de matéria orgânica e a ciclagem de nutrientes, podem sofrer impacto elevado, levando o sistema agrícola à maior dependência por fertilizantes.
Há necessidade de compreendermos como a biodiversidade dos solos é afetada pela agricultura, em suas diversas formas, e qual a relação entre os impactos à biodiversidade do solo e a sustentabilidade da agricultura. Uma maneira de realizar estes estudos é através da avaliação da diversidade de microrganismos do solo.

SISTEMA BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS. A Embrapa Solos lançou, recentemente, o livro Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. O novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos é um referencial taxonômico para uso de pesquisadores, técnicos, professores, estudantes e profissionais envolvidos na pesquisa de solos. Ele é resultado de aperfeiçoamentos contínuos ao longo de várias gerações de estudiosos da Ciência do Solo no Brasil e sintetiza, no estágio atual, a experiência e resultados de pesquisa de campo e laboratórios nas linhas de morfologia, física, química e mineralogia de solos.
A classificação de solos no Brasil iniciou-se em 1947 e baseava-se nos conceitos americanos sintetizados em publicações de 1938 e revisadas em 1949.
Nestes 50 anos ininterruptos de estudos de solos, várias mudanças ocorreram quanto aos conceitos originais, nomenclatura e definições de classes. Todos esses estudos estão, agora, espelhados na edição atual do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, que - ainda em processo de publicação - inova completamente a estrutura do sistema e atinge o nível desejável de classificação hierárquica, multicategórica, descendente e aberta para inclusão de novas classes à medida que o país vai sendo melhor conhecido.

Produto de uma parceria bem sucedida entre a Embrapa Solos e instituições nacionais de ensino,pesquisa e planejamento -cerca de 25 instituições participaram de sua elaboração - esse novo Sistema, da forma que está estruturado, permite a classificação de todos os solos do território nacional em seis níveis categóricos diferentes (Ordem, Subordem, Grande Grupo, Subgrupo, Família e Série), correspondendo, cada nível, a um grau de generalização ou detalhe definidos. À Ordem corresponde o nível mais genérico de classificação, distinguindo verdadeiras províncias de solos e à Série correspondendo o nível mais detalhado e preciso de classificação, separando unidades bastante homogêneas, precisamente definidas e abrangendo pequenas áreas do terreno. Entre a Ordem e a Série, variam os graus de abstração, nesta seqüência, diminuindo o grau de generalização e aumentando o grau de especificação e detalhe.

O novo sistema é, enfim, estruturado com base em características de gênese do solo e propriedades
pedogenéticas que imprimem marcas distintas em cada tipo de solo conhecido.

PRINCIPAIS LIMITAÇÕES DOS SOLOS DO BRASIL. O Brasil é um país de dimensões continentais, eminentemente tropical e que apresenta grande variedade de solos, e portanto, com diferentes potenciais de produção agrícola. Citaremos as principais:

. SOLOS COM PROBLEMAS DE ACIDEZ (84%). Solos que possuem elevada concentração de alumínio e, em menor escala, ferro e manganês. Estes elementos prejudicam o crescimento radicular e diminuem a disponibilidade de alguns nutrientes. Esta limitação (acidez) pode ser corrigida com a aplicação de corretivos específicos;

. SOLOS COM PROBLEMAS DE SALINIDADE (2%). Solos que apresentam elevada concentração de sais, principalmente sódio. Existe dificuldade para o crescimento radicular, absorção de água devido ao potencial osmótico (seca fisiológica) e desbalanceamento geral entre os nutrientes. A correção destas terras é viável com a utilização de carreadores químicos (p.e. gesso) e elevada quantidade de água para a retirada do sódio do sistema ;

. SOLOS RASOS (7%). Solos que apresentam pequeno volume para o desenvolvimento radicular. Com isto, as plantas absorvem poucos nutrientes, ficam sujeitas facilmente à deficiência hídrica e ao tombamento. Tipo de limitação onde não existe correção;

. SOLOS COM AUSÊNCIA DE OXIGÊNIO EM ALGUMA ÉPOCA DO ANO (16%). Solos que apresentam variação significativa do lençol freático, atingindo a zona radicular e, dependendo do solo, saturação (encharcamento) permanente ou por um período do ano. Esta limitação pode ser corrigida ou minorada através de práticas de engenharia, por exemplo drenagem;

. SOLOS SEM LIMITAÇÃO PARA USO AGRÍCOLA (9%). Os solos que não apresentam limitações relevantes para a produção agrícola (9%), e portanto maximizam o retorno do capital investido, apresentam boa reserva de nutrientes, boa drenagem, boas propriedades físicas (estrutura, textura, entre outras) e teor de água que atenda o ciclo da planta.

LATOSSOLOS DO BRASIL. Os Latossolos são solos que possuem excelentes condições físicas e que apesar de apresentarem graves limitações quanto a fertilidade natural, tornam-se excepcionalmente produtivos quando utilizados sob sistemas de manejo tecnificados, que incluam a correção da acidez, o aumento da fertilidade e o controle da erosão. Os modernos sistemas de manejo agroecológicos, compreendendo a manutenção e o aumento das fontes de matéria orgânica, o manejo dos componentes biológicos, o aumento da capacidade de retenção de umidade, o cultivo mínimo e o plantio direto, são bastante promissores para implantação de uma agricultura ideal, sustentável, nos Latossolos do Brasil.
Esse tipo de solo ocorre, em geral , em áreas de topografia favorável à mecanização, em amplas superfícies planas, suave onduladas a onduladas e devido a estas condições sustentam grande parte da produção de grãos, pastagens, cana-de-açúcar e quase a totalidade da soja produzida no país.

Extensas áreas de solos profundos, muito porosos, macios, friáveis e muito permeáveis, preenchem o Mapa de Solos do Brasil. São os Latossolos, que predominam nas paisagens brasileiras típicas dos Cerrados, dos planaltos do Sudeste, das chapadas do Centro - Oeste e dos derrames basálticos da Bacia do Paraná ao Sul e ao Sudoeste do Brasil.

Um pouco menos porosos e bem mais coesos, mais Latossolos estendem-se a outras paisagens dos terraços da Amazônia Oriental, das chapadas sedimentares do Nordeste e dos Tabuleiros Costeiros. As áreas de todos os Latossolos do Brasil, somadas, totalizam uma superfície de cerca de 331.637.200ha, correspondendo, aproximadamente a 39% do território brasileiro.

De acordo com a variabilidade espacial de fatores climáticos, geomorfológicos e de material de origem,os Latossolos, são classificados em 10 unidades de grande expressão geográfica, mostradas no Mapa de Solos do Brasil, na escala 1:5.000.000, EMBRAPA-SNLCS (1981):
. Latossolo Amarelo álico e distrófico (Haplic Ferralsol). 97.330.000ha;
. Latossolo Bruno álico e distrófico (Xanthic Ferralsol). 1.414.400ha;
. Latossolo Húmico álico (Humic Ferralsol). 975.100ha;
. Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico (Geric Ferralsol)155.810.600ha;
. Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico e eutrófico (Haplic Ferralsol) 3.480.900ha;
. Latossolo Roxo distrófico (Rhodic Ferralsol)9.586.000ha;
. Latossolo Roxo distrófico e eutrófico (Rhodic Eutric Ferralsol)10.542.200ha;
. Latossolo Vermelho-Escuro distrófico (Geric Ferralsol) 49.378.700ha;
. Latossolo Vermelho-Escuro distrófico e eutrófico (Rhodic Ferralsol) 1.544.500ha;
. Latossolo Vermelho-Escuro eutrófico (Rhodic Eutric Ferralsol)1.574.800ha.